sexta-feira, 18 de julho de 2008

O mundo encantado da aviação civil



Viajar de avião é uma experiência interessante. Não só o voar em si, mas todo o processo que envolve a viagem de avião. Os aeroportos nos mostram um mundo mágico de idiossincrasias:


Indo para o aeroporto

São 6h59 e estou dentro do táxi, já nos domínios do aeroporto e angustiado com o engarrafamento para chegar ao portão de embarque. Enquanto o motorista discorre sobre seu plano infalível para combater de uma vez só a violência, a fome e o aquecimento global, noto como os taxistas gostam de fazer customizações audaciosas em seus veículos. Sejam fusquinhas da década de 70 ou sedans de luxo novinhos em folha, sempre tem alguma gambiarra que nos fascina. A desta vez era uma lâmpada fluorescente colocada bem porcamente no teto do carro, que dava ao cockpit uma iluminação similar a de uma farmácia. Pergunto ao motorista se a lâmpada original do carro era muito fraca e ele me diz: “Sabe como é, os clientes são exigentes e sempre querem uma novidade. Tenho que inovar sempre, senão fico para trás... Um colega meu prepara pipoca com o acendedor de cigarro e oferece de graça aos clientes. Um dia eu chego lá.”

Meu vôo está marcado para as 7h30 e não vejo possibilidades concretas de descer do táxi pelos próximos 10 minutos. São centenas de táxis tentando dividir uma rua de duas pistas magricelas. Muitas das pessoas que viajam de avião chegam de táxi e sozinhas ao aeroporto. Ou seja, para cada passageiro de cada avião, há um carro do lado de fora do aeroporto. Não faz muito sentido.


Celebridades

Sempre no mesmo vôo que você, especialmente se for da ponte aérea, haverá alguém famoso por perto. Vemos nos aeroportos um grande desfile de celebridades em estado bruto. Chego a ficar assustado com a real aparência de muitas delas. “Demorei para reconhecer... Então isso que é a fulana de tal??” A televisão e as fotos bem produzidas que vemos nas revistas são amplamente generosas com certas figuras. Acabo me sentindo ludibriado, como quando vamos a um fast-food e ao abrirmos a caixinha do sanduíche vemos lá dentro uma coisa mirrada, amarfanhada, torta e seca. Muito diferente da provocante e bela foto do cardápio.

Gostaria também de saber como os famosos fazem para entrar no avião sem fazer check-in e sem esperar na sala de embarque. Eu só os vejo dentro do avião já sentados e quase sempre de óculos escuros, ou no máximo subindo ou descendo as escadinhas de acesso à aeronave. Devem vir escondidos no caminhãozinho que traz as malas...


Destinos imaginários e o locutor tenebroso

Em Congonhas o cara que anuncia os vôos me dá medo. Sua voz gutural é uma mistura do Zé do Caixão com o Gil Gomes. Muito intimidador, principalmente porque para muitas pessoas a experiência de voar já é assustadora o bastante. O locutor faz questão de enfatizar a palavra “destino” quando faz a chamada dos vôos. Os mais assustados já ficam pensando que ele vai emendar um “incerto” ou um “desgraçado”. Deveriam trocar o locutor de voz horripilante por aquelas contadoras de historinhas infantis. Seria bem mais simpático e daria confiança às pessoas. Imaginem que diferente seria se uma voz doce tomasse conta do aeroporto dizendo o seguinte texto: “Oi Amiguinhos! O vôo 1234 para o Rio de Janeiro vai sair agorinha mesmo! Espero vocês no portãozinho número 12. Na sala de embarque vamos nos divertir à beça e depois viajar de aviãozinho. Uóónn..."

O que também me chama a atenção são os vôos enigmáticos. Já cansei de ouvir anunciarem o vôo para Navegantes. Fiquei observando e constatei que ninguém nunca se dirige ao portão de embarque anunciado para o vôo para Navegantes. Na verdade nunca conheci ninguém que fosse desta cidade ou que tivesse comentado comigo: "Semana passada eu estive em Navegantes..."

Acho que tudo não passa de invenção dos aeroportos para nos dar a sensação de que vários vôos estão saindo e que tudo está funcionando perfeitamente. Seria uma forma de não deixar que a gente repare que o nosso vôo está atrasado.


Refeições na aeronave

Quase todo vôo comercial tem alguma espécie de serviço de bordo. Minimalista ou não, sempre há um cardápio e acabam servindo algo para enganar o estômago. Nada mais natural do que estar sentado numa poltrona e comer alguma coisa. Quase nunca paramos para pensar que estamos a 10 mil metros de altitude e a uma velocidade de cruzeiro média de 700 Km/h. Quando percebemos isso, começamos a pensar o quão estranho é estar nessas condições e ainda por cima comendo. Mais estranho ainda é o ponto de vista de alguém que está em terra e avista um avião lá no céu. "Olhá lá o avião. Já parou para pensar que ali dentro daquele treco tem pessoas comendo neste exato momento?"

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