quarta-feira, 28 de maio de 2008

Mania antropomórfica

Desde os tempos das cavernas o homem pinta e constrói figuras antropomórficas. O primeiro desenho que aprendemos a fazer quando crianças é aquele homenzinho só com traços. Crianças brincam com bonecos que imitam pessoas. Adultos compram bonecos infláveis para satisfazerem desejos. Espantalhos são concebidos à imagem e semelhança dos humanos. Até produzimos outras pessoas de verdade por meio do coito.

Outro dia fui arrumar o escapamento do meu carro e na oficina me deparei com esta obra intrigante, que muito bem poderia ter sido criada por Marcel Duchamp: um homenzinho de escapamento. Fiquei longos minutos ali olhando para aquela obra, admirando sua estrutura e imaginando o quão difícil deveria ter sido sua construção. Quem diria, eu naquele ambiente inóspito onde escarradas e arrotos ecoam no ar, e de repente me deparo com uma obra feita por alguém com uma sensibilidade artística admirável.

Bem que a moda poderia pegar, assim veríamos homenzinhos fabricados a partir de diversos produtos de acordo com o ramo de atividade. A floricultura teria um boneco de flores, a padaria o de pão (se bem que pães antropomórficos estão entre as especialidades da padaria Barcelona aqui em São Paulo), o dentista faria bonecos com amálgama e lascas de dentes, o açougue teria o homenzinho de acém, o químico faria um boneco de tungstênio...

Acerte o vaso e Nós e a sujeira (bônus)

Já sabemos que todo aviso existe porque alguém já fez exatamente o que ele pede para não fazer. Para chegarem ao ponto de pedir para não jogar papel ou "qualquer objeto" quer dizer que já jogaram no vaso coisas como espremedor de alho, bico de Bunsen, régua Desetec, etc.

Esse aviso aí me chamou a atenção pela pitoresca representação de um bebê-adulto com cara de sacana jogando basquete com a privada. Ouvi dizer que estes seres zombeteiros, os "véios-nenês", de fato existem e costumam bagunçar banheiros por aí. Seriam quase uma lenda urbana como a loira do banheiro.

Seu banheiro sujou sem aparente motivo? Tem véio-nenê na parada, fique esperto. Aliás, já repararam como banheiros ficam imundos mesmo sendo usados de forma civilizada? Custo a acreditar que todas aquelas cracas e nojeiras que se instalam no box do banheiro tenham saído de mim. Impossível. Deve ter véio-nenê lá em casa apavorando o banheiro quando estou fora.

Outro ponto que me intriga: Por que as toalhas de banho ficam sujas? Elas são usadas para secar corpos devidamente limpos depois do banho e teoricamente deveriam ser uma das coisas mais imaculadas da face da terra. Se elas ficam sujas quer dizer que o banho que tomamos não foi tão eficaz assim. Devemos estar tomando banho errado ou usando produtos que não nos limpam direito. Vou experimentar substituir o sabonete por desinfetante e soda cáustica para ver se a minha toalha se mantém limpa.

A relação do ser humano com a sujeira é interessante e perversa. Boa parte das nossas vidas passamos lutando contra ela: banhos, escovar os dentes, lavar as mãos, lavar roupa, lavar louça, faxina, lavar e aspirar o carro e uma infindável lista de atos contra a sujeira. Será que não deu para notar que nunca vamos ganhar essa guerra? No final a sujeira sempre vence. Experimente tomar um extraordinário banho e ficar deitado na cama imóvel por uma semana. Você vai ficar imundo e fedendo, não tem jeito. A sujeira sempre tem razão. Ela é a única certeza nessa vida, mais certeza do que a própria morte.