quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fragmentos arqueológicos

A torrada sempre teve um papel importante na minha vida. Influenciado por meu avô, desde priscas eras eu consumo diariamente algumas fatias da versão integral. O recheio varia entre geléia, requeijão, cream cheese, queijo branco e Nutella, depende do meu estado de espírito e da natureza da refeição (café da manhã, café da tarde, ceia ou lanchinho aleatório). O fato é que a torrada é minha inseparável companheira e amante alimentar, como-a todos os dias.

Em função desta relação de longa data, adquiri um vasto conhecimento sobre como avaliar, escolher, estocar, manusear, consumir e apreciar torradas. Apesar de sensíveis avanços terem sido notados no quesito embalagem ao longo dos anos, ainda estamos longe de ter invólucros realmente confiáveis e que preservem a integridade física das apetitosas lindinhas douradas. Quase frequentemente, ao abrir as embalagens, me deparo com uma terrível realidade: torradas covardemente despedaçadas, estraçalhadas e moídas.

Sinto-me como um arqueólogo buscando vértebras de dinossauro no meio do deserto. Cada fragmento é importante e não deve ser desprezado. Além da óbvia raiva que sinto ao ver torradas esmigalhadas, fico tomado por uma imensa curiosidade, tentando imaginar quais atos truculentos seriam os responsáveis por deixá-las naquela horrenda situação. Em que parte do processo a violência ocorre? Na fabricação? No estoque? No transporte? No ponto de venda? Sinceramente não sei, mas imagino que os supermercados têm sua parcela de culpa. Uma vez eu vi o rapaz que colocava os produtos nas gôndolas fazendo embaixadinha com um pacote de torradas...

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